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Canjica Doce, Semana da Cozinha Gaúcha

Canjica Doce, Semana da Cozinha Gaúcha

13/09/2013

Bom dia!

Seguindo na Semana da Cozinha Gaúcha, a sexta-feira dá lugar a uma substanciosa sobremesa - nada melhor para acompanhar o nosso tradicional Carreteiro de Charque.

Para hoje, preparamos uma Canjica Doce, receita de influência luso-africana, que é muito tradicional na cozinha gaúcha, em especial na Região Missioneira. Pode-se dizer que a doçaria brasileira - e, consequentemente, a gaúcha - deu seus primeiros passos com a chegada dos imigrantes portugueses, durante o período colonial, os quais introduziram diversos novos hábitos alimentares em nosso território, como o uso do açúcar. Os imigrantes se instalaram principalmente na região dos pampas, local onde já haviam concentrações de espanhóis e da população indígena nativa. A fusão de hábitos e costumes dessas três culturas remonta as origens do povo gaúcho, que, nos séculos seguintes, ainda absorveu mais um intercâmbio, com a vinda das levas de imigrantes africanos e de vários outros países europeus.

A influência da cozinha lusitana no Brasil se desenvolveu, principalmente, com as instalações dos engenhos de açúcar, a partir do século XVI, com o objetivo de atender à demanda europeia pelo produto. Após uma tentativa inútil de forçar o povo indígena a trabalhar nesses locais, os senhores dos engenhos optaram por trazer a mão de obra escrava africana para as terras da Colônia. Inclusive, a cachaça (um dos subprodutos da cana-de-açúcar), foi bastante utilizada como moeda de troca entre os senhores dos engenhos para o escambo de escravos. Com a expansão do negócio e o largo alcance do açúcar tanto no próprio Brasil como na exportação para a metrópole (Portugal), os engenhos se tornaram uma fonte muito lucrativa para os colonizadores. Em meados do século XX, os engenhos ainda figuravam como a principal fonte econômica de vários estados brasileiros, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste.

Ilustração dos antigos engenhos de açúcar.
Ilustração dos antigos engenhos de açúcar.

Para o prato de hoje, herdado da época de introdução da cultura doceira no país, o açúcar é combinado com um ingrediente bastante abudandante no Brasil, utilizado em diversas receitas (tanto doces como salgadas). Estou falando do milho, que já era muito apreciado pelos povos indígena e africano. Esse cereal, novidade para os portugueses que aqui chegavam, é um gênero fundamental na base nutritiva brasileira. Adaptando os usos desse cereal à sua cultura, várias ideias portuguesas marcaram receitas conhecidas até hoje no Brasil, como é o caso da Canjica, também conhecida como Mungunzá, na região Nordeste. A receita é, basicamente, um creme com milho (verde ou branco) cozido no leite temperado com especiarias. O próprio consumo do leite, alimento muito popular no nosso país, tem origem na época da colonização, com a domesticação do gado, inicialmente utilizado como força motriz dos engenhos.

Canjica de Milho

A canjica é um doce muito saboroso e substancioso, quase uma refeição!
A canjica é um doce muito saboroso e substancioso, quase uma refeição!

Ingredientes:

Modo de fazer:

  1. O primeiro passo é hidratar o milho para facilitar o cozimento do grão. Deixe-o de molho por cerca de 6 horas (ou mais, se possível).
  2. Depois desse tempo, coloque o milho na panela de pressão (ou em uma panela comum com a tampa entreaberta) com a mesma água em que ele estava antes. Se necessário, adicione um pouco mais de água.
  3. Cozinhe os grãos até que estejam bem macios (pode demorar cerca de uma hora ou mais). Retire o que sobrar de água.
  4. Adicione o leite, o cravo e a canela e deixe levantar fervura.
  5. Nesse ponto, adicione o açúcar e deixe cozinhar até que a mistura fique bem cremosa (não esquecendo de mexer de vez em quando para não grudar).
  6. Sirva quente ou gelado.

A canjica, como disse, é uma sobremesa substanciosa. Na época das carreteadas e da vida voltada principalmente ao trabalho físico, além de um complemento, ela era uma rica fonte nutritiva e energética para as lidas diárias. As receitas atuais de canjica geralmente levam leite condensado, um produto que praticamente domina a cultura dos doces no Brasil. Há também variações de região para região, sendo que há receitas com amendoim torrado ou coco e, até mesmo, há a Canjica Salgada, geralmente feita com o milho amarelo.

Se você reparar nas fotos, minha canjica está com um tom mais marrom. Isso aconteceu porque precisei usar a canela em pó, pois não tinha mais a em pau. O sabor, na verdade, é o mesmo. O que muda é o visual, pois, geralmente, as canjicas doces são bem branquinhas. No entanto, se você não se importar, dá para fazer tranquilamente dessa forma.

Há uma expressão gaúcha muito popular que diz: “fogo na canjica”. Dependendo do seu uso, pode se referir a algo que é difícil de ser feito, pois o cozimento da canjica é bastante demorado, ou, ainda, à ideia de animar alguém, colocar algo em movimento.

Tchê, então vamos para a cozinha e já botar fogo nessa canjica!

A Semana da Cozinha Gaúcha volta no dia 17 de setembro (terça-feira), com um acompanhamento bagual: Moranga Caramelada!

Até lá!

Tags: doces e sobremesas, especiais

Por Mariana Cervi Soares