Bom dia!
A quarta-feira começa com cheirinho de almoço na casa da vó! Seguindo com os trabalhos da Semana da Cozinha Gaúcha, hoje é dia de sabor de infância, com uma bela Galinhada.
A galinha chegou ao Brasil na época do Descobrimento, com a vinda dos portugueses, os quais deram os primeiros passos para o desenvolvimento de um sistema agropecuário nas terras de nosso país. Um dos animais domesticados mais conhecidos e abundantes no planeta, a galinha é presente na alimentação de diversas culturas. Hoje, o Brasil figura entre os maiores exportadores e produtores de carne de frango no mundo.
Precisar exatamente a origem da galinhada gaúcha, prato substancioso e com toque da vida campeira, não é uma tarefa muito fácil - sua história é bastante marcada pela tradição oral. No entanto, a importância desse prato nos vários cantos da cozinha do Rio Grande do Sul, com certeza, tem ares na mistura luso-brasileira, especialmente devido aos seus principais ingredientes, a carne de frango e o arroz, culturas portuguesas que se tornaram fundamentais no cenário alimentar do nosso país. Algumas pistas sobre o uso da galinha e o seu casamento com o arroz podem ser observadas em trecho do livro “O Retrato (v.1)”, parte integrante da obra O Tempo e o Vento, literatura histórica gaúcha escrita por Érico Veríssimo, que, dentre suas descrições da cultura, dá bastante valor para a mesa do povo formador do Rio Grande do Sul.
“Um dia, ao fim dum almoço suculento - iscas de rim grelhadas, feijoada completa, arroz pastoso com galinha, churrasco gordo de ovelha, tudo isso rematado por um prato fundo cheio até as bordas de leite com grãos de milho verde cozido -, lembrou-se dos banquetes de que fora conviva em Porto Alegre, e cujos menus eram escritos em francês. Sim, ele sabia apreciar tanto as delicadezas da cozinha francesa como as brutalidades substanciosas da cozinha campeira do Rio Grande!” (O Retrato V. 1, pg. 226).
Também conhecido simplesmente por arroz com galinha, a galinhada é um prato muito saboroso e, ao mesmo tempo, prático de fazer. Em 2011, a iguaria campeira tornou-se, através de um projeto de lei, o prato oficial da cidade de Venâncio Aires, também conhecida como Capital do Chimarrão. O município de povoação açoriana tem o prato como uma tradição dos festejos anuais de São Sebastião Mártir, o padroeiro da cidade. Conforme a história do município, a primeira festa em homenagem ao Santo data de 1876 e, com o passar do tempo, a galinhada foi se tornando uma pedida especial para as comemorações. Hoje, grande parte dos eventos comunitários da cidade são embalados pelo famoso prato gaúcho.
Como há varias receitas diferentes de galinhada - todas com base no arroz, na galinha e nos temperos - hoje, no Panela de Pau, vamos fazer uma releitura desse prato delicioso. É importante usar cortes gordos de frango para que o arroz fique molhadinho, pastoso e, claro, com muito sabor.
Galinhada
Ingredientes:
- 1kg de pedaços de frango (não tirar a pele)
- Pimenta do reino e sal a gosto
- 2 dentes de alho picados
- 1 cebola picada
- 2 tomates picados
- 200ml de cachaça
- 2 colheres (sopa) de óleo
- 2½ xícaras (chá) de arroz
- ½ pimentão verde picado
- 3 colheres (sopa) de azeitonas verdes picadas
Modo de fazer:
- Tempere o frango com o alho, o sal, a pimenta e a cachaça e deixe a carne marinar por cerca de 20 a 30 minutos. Na sequência, retire os pedaços de frango da mistura. Reserve o caldo da marinada..
- Frite bem os pedaços de frango no óleo até que fiquem macios e dourados. Adicione a cebola e frite mais um pouco.
- Adicione os tomates, o pimentão, as azeitonas e o caldo da mistura da marinada. Refogue bem por cerca de 3 minutos e, logo, adicione o arroz e deixe dar uma boa fritada.
- Cubra com água e deixe cozinhar por cerca de 20 a 30 minutos (ou até que o arroz esteja cozido), com a tampa da panela entreaberta. Acerte o sal, se necessário.
E a galinhada está prontinha para você servir! O modo de fazer é bastante similiar ao do Carreteiro de Charque. Se você puder utilizar a panela de ferro, como nas outras receitas, tanto melhor. Ela preserva mais o calor e confere um sabor inconfundível à comida - a rapinha do arroz, então, é de comer rezando!
Se preferir, você pode usar outra bebida no lugar da cachaça. Inclusive, na maioria das receitas, usa-se vinho branco. Como eu não tinha, resolvi experimentar com a cachaça e não me arrependi - a carne ficou muito saborosa e douradinha!
Agora, uma curiosidade: além de à mesa, a galinha também é muito presente no palavreado gaúcho, como se pode ver em algumas expressões:
Sério como guri que examina galinha para ver se tem ovo!
Louco que nem galinha agarrada pelo rabo!
Solito como galinha em gaiola de engorde!
Ah, e não pode faltar a minha favorita: De grão em grão, a galinha enche o papo!
A Semana da Cozinha Gaúcha retorna amanhã, com mais uma receita de arroz, só que, diferente de hoje, é para a hora da sobremesa.
A quinta-feira será de Arroz de Leite!
Até lá!
Tags: pratos quentes, especiais
Por Mariana Cervi Soares