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Carreteiro de Charque, Semana da Cozinha Gaúcha

Carreteiro de Charque, Semana da Cozinha Gaúcha

12/09/2013

Bom dia pessoal!

Hoje, dia 12 de setembro, dou início à Semana da Cozinha Gaúcha, uma homenagem do Panela de Pau ao Dia do Gaúcho (20/09) e à Semana Farroupilha - período tradicional de comemorações da cultura do Rio Grande do Sul.

A receita desta quinta-feira leva um ingrediente muito importante para a história do Estado: o charque. O charque é uma carne bovina salgada, que tem como processo a secagem ao sol por longos períodos de tempo. O objetivo desse tratamento é desidratar a carne, acomodada em mantos, para que possa ser conservada por mais tempo. A validade do charque é consideravelmente maior que a da carne seca ou da carne de sol, pois na sua temperagem leva quantidades de sal mais abundantes.

Ilustração de uma antiga charqueada, local de produção do charque junto às propriedades dos fazendeiros.
Ilustração de uma antiga charqueada, local de produção do charque junto às propriedades dos fazendeiros.

Por muito tempo, o charque foi o principal produto da economia do Rio Grande do Sul - um dos grandes produtores do gênero no Brasil. A maior parte das riquezas que circulavam no Estado dependiam desse alimento, que articulava o setor agropecuário gaúcho com os de diversas outras regiões do País, em especial do Centro-Oeste e do Sudeste. A disputa pelo mercado do charque tornou-se, a partir do Primeiro Reinado e da Regência, bastante difícil para os produtores gaúchos. Devido a uma série de impostos que desacelerou o crescimento da produção no Estado, causando um aumento do valor do charque sul-riograndense, o produto começou a perder concorrência no âmbito nacional. Dentre vários fatores, a massiva insatisfação dos fazendeiros gaúchos com as medidas do governo deu origem à Revolução Farroupilha (ou Guerra dos Farrapos), liderada por Bento Gonçalves, a qual se estendeu por 10 anos, entre 1835 e 1845, encerrada através do Tratado de Paz de Ponche Verde. Em 2003, a minissérie A Casa das Sete Mulheres (em reprise atualmente no canal Viva) teve esse episódio histórico como seu pano de fundo, baseada no romance da autora gaúcha Letícia Wierzchowski.

No meio do conflito farroupilha, o dia 20 de setembro tem um simbolismo marcante, pois é a data de início dos confrontos, quando o exército rebelde tomou Porto Alegre (capital do Estado) e deflagrou o começo das batalhas com as forças nacionais. Desde 1978, pela Lei Estadual nº 4.453/78, a data é regulamentada como feriado estadual, marcando o Dia do Gaúcho.

E, então, chegamos à nossa semana histórico-cultural com uma saborosa série de receitas culinárias. A cozinha do Rio Grande do Sul, que tem bastante predominância campeira, é muito rica em sabores (não é só churrasco!), com várias e marcantes influências: indígena, africana, italiana, lusitana e germânica. Nossa receita de hoje, o Carreteiro de Charque, traz dois alimentos essenciais à culinária gaudéria: o arroz e a carne. Na época da Revolução Farroupilha, a combinação desses dois ingredientes era praticamente como o arroz com feijão de hoje: indispensável! O nome “Carreteiro” tem origem nos comerciários ambulantes e transportadores de carga que cruzavam o Rio Grande do Sul em carretas de boi, aos quais é creditada a famosa receita que até hoje é presente na mesa do povo gaúcho. Como não podiam carregar muito peso e produtos perecíveis nas viagens, a alimentação dessas pessoas era bastante restrita. Assim, o Carreteiro geralmente levava apenas o charque e o arroz e, quando possível, alguns condimentos, como cebola e alho. E essa é a nossa pedida para começar a série das comidas gaúchas: pouquíssimos ingredientes, muita história e sabor inconfundível!

Carreteiro de Charque

A couve refogada é uma companheira muito saborosa para o carreteiro de charque.
A couve refogada é uma companheira muito saborosa para o carreteiro de charque.

Ingredientes:

Modo de fazer:

  1. Primeiro, dessalgue o charque. Para isso, deixe-o de molho por cerca de 5 horas, trocando a água de 4 a 5 vezes nesse período. Dependendo do charque, o número de trocas pode ser maior ou menor. Depois desse processo, pique o charque (se preferir, já compre o charque em pedaços).
  2. Frite o charque na gordura (o óleo é a opção mais leve) até que comece a dourar (ele soltará um pouco de líquido) e, então, adicione a cebola e o alho picados e refogue bem (adicionando um pouco de água fervente aos poucos para auxiliar no cozimento e evitar que o charque fique duro).
  3. Quando o refogado estiver mais seco, adicione o arroz e deixe que frite levemente com os demais ingredientes.
  4. Cubra tudo com água e deixe cozinhar até que o arroz esteja no ponto. Se necessário, regule o sal.

Com poucos ingredientes e 4 passos rápidos, está pronto um arroz memorável, que tem no seu tempero o sabor marcante da própria carne. O tempo de preparo, após a dessalga do charque, não é longo, cerca de 30 minutos. Com a quantidade dessa receita, comem bem cinco pessoas, tranquilamente. Uma boa sugestão é servi-lo com couve refogada (como na foto acima) e, ainda, farinha de mandioca (ou farofa). Uma salada também cai bem. Se você puder, o ideial é fazer o Carreteiro em panela de ferro, da mesma forma que os inventores originais da receita - o sabor é muito rico! Mas, claro, não há problema nenhum usar panelas de outro material.

E essa foi a nossa receita de hoje!

Não deixe de seguir acompanhando a nossa Semana da Cozinha Gaúcha, que está recém começando!

Amanhã, é dia de sobremesa: Canjica Doce. Não vá perder!

Até a próxima!

Tags: pratos quentes, especiais

Por Mariana Cervi Soares